A Lenda

O Castelo de Abrantes foi conquistado aos Mouros por D. Afonso Henriques, na madrugada do dia 8 de Dezembro do ano de 1148.

Era, então, Alcaide do Castelo um velho mouro chamado Hibrahim-Zaid, ou Abraham-Zaid no idioma dos cristãos. Esse mouro era senhor de quase todas as terras da Ribeira da Abrançalha, antigamente chamada Ribeira da Nossa Senhora da Luz, devido à Ermida que lá existia e na qual se venerava com muita devoção a mesma Senhora. Os Cristãos ganharam muita afeição a Abraham-Zaid, pois este deixava-os fazer as suas orações na Ermida e como ele era dono de todas as terras ali existentes, começaram a chamar Ribeira de Abraham-Zaid à Ribeira de Nossa Senhora da Luz. Daí terá derivado, com os tempos, para o termo de Abrançalha.

Hibrahim-Zaid tinha uma filha donzela muito bonita, formosa e gentil chamada Záhára, e um filho bastardo chamado Samuel, filho de uma Cristã. Samuel desconhecia que Hibrahim-Zaid era seu pai e assim amava extremosamente a sua irmã, recebendo dela igual afecto, sem que o pai de ambos tivesse conhecimento da situação. Depois de D. Afonso Henriques Ter conquistado o Castelo de Abrantes aos Mouros, Samuel foi feito prisioneiro pelo valente cavaleiro Machado. Vendo que um dos soldados cristãos levava arrebatada a infeliz filha do Alcaide, o cavaleiro Machado deixou Samuel entregue aos guardas e correu a socorre-la salvando-a com arrojo esforçado e foi entregá-la a um monge de São Bento que acompanhava o Rei desde o Mosteiro de Lorvão.

O Cavaleiro Machado sempre tinha sonhado que um dia, ao subir aos muros de um Castelo, salvaria uma donzela com quem casaria. D. Afonso Henriques tinha um filho "bastardo", chamado Pedro Afonso e nomeou-o Alcaide-Mor do Castelo de Abrantes, tendo contudo ficado o Cavaleiro Machado a exercer essa função em nome de D. Pedro Afonso. Antes de partir, D. Afonso Henriques dá ordens para que Záhára seja entregue novamente a seu pai e depois de tomar providencias para a segurança do Castelo, partiu para mais conquistas aos Mouros. Ficou também o Monge para cumprir a sua função espiritual junto dos fiéis.

 

O Cavaleiro Machado, vendo-se agora Alcaide do Castelo, atribuiu à providência de Deus a escolha que o Rei D. Afonso Henriques fizera. No dia seguinte, Samuel visitou Záhára em casa desta. Bebendo um pouco de água, deu-lhe a conhecer a antipatia que sentia pelo Cavaleiro Machado. "Este novo Alcaide Cristão, ocupou o lugar que era de teu pai e como se não bastasse está constantemente de roda de ti. Não gosto nada dele e tenho receio que se intrometa no nosso amor..."

 
Záhára: " Não digas isso, bem sei o que queres dizer, mas o meu coração é teu, serte-ei fiel. Embora o Cavaleiro Machado me seja muito gentil!". Abraham-Zaid entra de repente e sem suspeitar do amor de Samuel por Záhára, sua irmã, defende, contudo que Samuel deve tratar bem o Cavaleiro Machado. "Sabes Samuel, não tens motivos para queres mal ao Cavaleiro Machado. Sabes, meu filho, o Cavaleiro Machado é boa gente. Tem sentimentos nobres e é honrado!"

Samuel aceita as palavras deles e sorri. Depois de Záhára lhe ter confirmado o seu amor, fica feliz. "Bom, então agora que tudo está esclarecido, vamos cada um à sua vida na graça de Deus. Até logo"... Záhára, de uma forma irreflectida, após a jura de amor recíproca com Samuel, incendiou novamente a situação. "Mas pai, se acaso vier o Alcaide procurar-me e o pai não estiver em casa, devo recebe-lo?" Para se esquivar ao Cavaleiro Machado e deixar Samuel feliz, continuou:"Penso que é melhor não lhe abrir a porta e deixá-lo a pensar, que não está ninguém em casa, mas o que é que o pai acha?" Abraham-Zaid, não compreendendo a interrogação de sua filha, interpretou-a como uma ofensa ao Cavaleiro Machado e respondeu: "Eu nada temo, nem receio da tua virtude, Záhára... e tenho provas da confiança e da honradez do alcaide..., ABRE ANTES a porta"!

 

Samuel, ouvindo estas palavras da boca de Abraham-Zaid, perdeu o juízo e começou a desacreditar Záhára e seu pai, fazendo crer na desonra da donzela. Afirmando... ABRE-ANTES, ABRE-ANTES... Estas palavras desfiguradas na boca do povo, causaram também má fama ao Cavaleiro Machado, que se tornou alvo das conversas de toda a gente. ABRE-ANTES... Daí em diante, o Castelo deixou de ser conhecido como Castelo de Tubucci para passar a ser conhecido como Castelo de ABREANTES, derivando mais tarde para ABRANTES. Apesar de tudo o Monge conseguiu fazer com que Samuel deixasse de difamar Záhára e o Cavaleiro Machado. A palavra persistente do Monge acabou por conseguir converter Záhára e Abraham-Zaid ao cristianismo.

O Monge e Samuel passaram a ser bons amigos e Samuel encontrou o caminho da salvação. Samuel acabou por se tornar um valente Cavaleiro, ajudando D. Afonso Henriques nas difíceis batalhas que se seguiram... Juntos lutaram contra os mouros, em batalhas valorosas , alcançando grandes vitórias...ajudando a construir Portugal... com a ajuda de Deus. Entre Záhára e Machado cresceu, entretanto, um sentimento de Amor. Machado: "Se aceitares ser minha, farte-ei feliz para o resto das nossas vidas".

 

A paixão entre eles era já uma realidade! Záhára: "É claro que aceito ser tua mulher. Seremos felizes para sempre". Alguns anos depois, enquanto D. Afonso Henriques continuava, algures, a construir Portugal, Machado entretém-se a brincar com os filhos, perante o olhar atento de Záhára, num final de tarde quente em Abrantes.

In: "História de Abrantes aos quadradinhos”

 

 


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